Janeiro de 2007
“...sou... livre mais levo uma coisa. Não sei o que seja. Eu não a escolhi. Jamais a fitei. Mas levo uma coisa. Não estou sozinho, pois anda comigo algo...”
Fotografia / 0,5m x 1,5m / impressão digital
"entre dois e mais"
Fotografia / 0,5m x 1,5m / impressão digital
O trabalho foi desenvolvido a partir de uma série de fotografias de nossos perfis em vários lugares e momentos, onde seu desdobramento se dá nas relações que estabelecemos com nós mesmos, com os outros e com tudo que nos envolve.
Essas relações podem ser descritas por sistemas ou tramas (José Saramago em Ensaio para uma cegueira: “... uma complexa trama de relações sociais”). A complexidade das relações, é regulada pelos hábitos e tradições, pelos usos e costumes, e pela experiência de vida em comum.
A trama ou sistema pode ser obtido quando se constrói um gráfico de nossas relações: eu que me relaciono com minha irmã, ela com seu filho e com seu marido, ele com seus amigos, e ambos com seus objetos de consumo, etc.
As relações das quais estamos interessados tratam do ser e do sistema como uma dependência de troca total entre os dois, o sistema não existe sem o ser e vice-versa. A existência do ser isolado seria a maneira do homem querer apalpar as coisas com sua visão simplista e seletiva, enxergando apenas as partes e não o todo, sabendo que as partes também possuem partes e estão todas relacionadas.
A escolha da fotografia (veículo plástico que direta ou indiretamente alcança toda sociedade) foi o que nos levou a transportar nossa visão aproximada de como funcionam essas relações.
O trabalho se fez em dupla, pois questionávamos o mesmo e não percebíamos como estabelecer uma relação sem ter o outro.
Em trabalhos anteriores a questão da identidade já era discutida, o indivíduo e suas relações com o mundo e seu cotidiano. Utilizamos diversos materiais e técnicas, estabelecendo com estes uma relação com a proposta.
Neste trabalho foi retirado um excerto do poema Homônimo de Carlos Drummond de Andrade, ”...sou... livre mais levo uma coisa.
Não sei o que seja. Eu não a escolhi. Jamais a fitei. Mas levo uma coisa. Não estou sozinho, pois anda comigo algo...”. Este excerto explica que o que ele leva é sua vida vista, com suas elegias, com seus momentos dramáticos e heróicos, com os seus amores - felizes ou frustrados , com as suas tristezas e orgulhos, com o seu humour; nunca, entretanto, sem humana austeridade ou destituída de caráter, isto é sua relação com as coisas, e seu poema aquilo que agente leva são as nossas relações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário